segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Olavo Bilac - Em mim também

EM MIM TAMBÉM

Em mim também, que descuidado vistes,
encantado e aumentando o próprio encanto,
tereis notado que outras cousas canto
muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida... Portanto,
meditai nas tristezas que sentistes:
que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive;
e, em lugar de acalmar as penas, antes
busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
que é dos loucos somente e dos amantes
na maior alegria andar chorando.

Bilac, Olavo Brás Martins dos Guimarães (1865-1918), famoso poeta brasileiro e figura significativa na vida pública de seu país. Teve carreira ilustre na literatura e na política, foi orador eloqüente e defendeu importantes causas sociais. Nasceu no Rio de Janeiro no dia 16 de dezembro de 1865. Estudou medicina, profissão que abandonou pelo direito, que mais tarde, por sua vez, trocou pela literatura.

Sua primeira coleção de versos, Poesias(1888), assegurou-lhe a fama. Apesar de ter apenas 23 anos quando o livro foi publicado, seus poemas já mostravam as características que marcariam suas obras mais maduras: o requinte formal acompanhado de grande sensualidade. Foi uma das figuras básicas do parnasianismo brasileiro, que pregava a objetividade, a contenção das emoções e a impassibilidade frente a qualquer tema.

Os 35 sonetos de Via Láctea resumem sua obra lírica, cantando o tema que mais o entusiasmava, o amor sensual. Conseguiu neles alguns de seus melhores e mais conhecidos versos, como "Ora (direis) ouvir estrelas!". Em obras posteriores desenvolveu temas históricos e filosóficos. O caçador de esmeraldasé um poema épico sobre os bandeirantes. Tarde(1919), publicação póstuma, é mais reflexiva e nostálgica.

Bilac foi um homem de letras ativo, escreveu artigos jornalísticos, ensaios de crítica literária, fez conferências e colaborou com outros escritores. Publicou um tratado de métrica e histórias patrióticas para as escolas. Fez campanha pelo serviço militar obrigatório, como forma de combater o analfabetismo e representou o Brasil no Congresso Pan-americano de Buenos Aires de 1910. Chamado "o príncipe dos poetas brasileiros", foi muito lido e teve muito prestígio em sua época, mas sua reputação entrou em baixa durante o período modernista. Morreu no dia 28 de dezembro de 1918, no Rio de Janeiro.

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