quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Fernando Pessoa - Desassossego

DESASSOSSEGO - I

Outrora eu era daqui,
e hoje regresso estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço,
velho de mim.

Já vi tudo, ainda o que nunca vi,
nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.

DESASSOSSEGO - II

Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
um espectador de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.

E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis.

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