domingo, 31 de julho de 2011

Basílio da Gama - Sonetos

SONETO I

Na idade em que eu, brincando entre os pastores,
andava pela mão e mal andava,
uma ninfa comigo então brincava,
da mesma idade e bela como as flores.

Eu com vê-la sentia mil ardores,
ela punha-se a olhar e não falava;
qualquer de nós podia ver que amava,
mas quem sabia então que eram amores?

Mudar de sítio à ninfa já convinha,
foi-se a outra ribeira; e eu naquela
fiquei sentindo a dor que n’alma tinha.

Eu cada vez mais firme, ela mais bela;
não se lembra ela já de que foi minha,
eu ainda me lembro que sou dela!...

SONETO II


Já, Marília cruel, me não maltrata,
saber que usas comigo de cautelas,
que inda te espero ver, por causa delas,
arrependida de ter sido ingrata.

Com o tempo, que tudo desbarata,
teus olhos deixarão de ser estrelas;
verás murchar no rosto as faces belas,
e as tranças d’ouro converter-se em prata.

Pois se sabes que a tua formosura
por força há de sofrer da idade os danos,
por que me negas hoje esta ventura?

Guarda para seu tempo os desenganos,
gozemo-nos agora, enquanto dura,
já que dura tão pouco a flor dos anos.

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