PARA DEPOIS DE AMAR
 Não jogar nunca água na fogueira,
que amar se cozinha em fogo brando.
O tempo verbal é, então, fundamental,
onde o “foi” cede lugar ao “está sendo”.
Convém, antes de mais nada,
fixar imagens, bater fotografias,
com o filme sensibilíssimo
de quem acaba de fazer amor.
Se uma olhadela no relógio diz
que dá para ficar um pouco,
aí sim, é que é sensacional ficar,
quando a vida já parecia sem lugar.
Depois?
Depois é só lembrar.
Depois é imaginar.
Redescobrir é o que há
de mais bonito depois de amar.
Acariciar assim lembranças pelo ar,
cismar, sonhar, chorar sem ter pudor,
que bom que é, de amar, a dor.
Ivo, Lêdo (1924- ), poeta e tradutor brasileiro. Nasceu em Maceió, Alagoas, e reside no Rio de Janeiro, RJ. Integra a geração de 45. Estreou com As imaginações (1944), tendo publicado obra numerosa: Ode e elegia (1945), Linguagem (1951), Magias (1960), Finisterra(1972), Calabar (1985), Crepúsculo civil (1990). Sua poesia funde o moderno e o antigo em linguagem rica, sem descuidar da forma ("Exilado na multidão/ sou silêncio e segredo, e venho/ quando os outros vão."). Notável pela multiplicidade do seu talento, destacou-se com igual sucesso no ensaio (Poesia observada,1967), no romance (Ninho de cobras,1973), no conto e na crônica 
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