segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Epiphânio Camillo - Pretérito (im)perfeito

PRETÉRITO (IM)PERFEITO


Não li Sheakspeare,
nada sei de Faulkner.
De Bilac, tercetos;
Drummond, sonetos;
Eça, capítulos.
Cervantes? quem foi?

Mas com você, meu bem,
brisa de poemas,
descobri que a vida dicionária
é enciclopédia,
carne e poesia,
metáfora entre fios de cabelos.

Lento caminhante,
perdido na etimologia,
percorri entrelinhas,
parágrafos, prefácios;
entusiasmei com versos,
adjetivos, elipses.

Errante,
surpreenderam-me as desinências,
os circunflexos,
apóstrofos;
as fascinantes parábolas,
os graves diacríticos!

Caliente,
amei tremas, vírgulas, reticências;
explorei verbos, contrações, apostos.
Apaixonado pelos derivados, fonemas, preposições,
busquei no raso léxico semântica para
interpretar seus predicados, polissíndetos, sinédoques.

Freqüente,
deliciei-me com as pausas,
adjuntos, conjunções;
apreciei sinonímias;
festejei hipérboles,
rimas dissonantes, interjeições!

Pedinte,
adorei bissextas métricas;
ajustei parônimos,
admiti galicismos,
analisei predicados,
abusei das mesóclises.

Saliente,
abracei sensuais travessões,
frases substantivas,
ardentes eufemismos,
exclamações efusivas
e o prazer das ênfases e derivações.

Não me traiu a sintaxe,
mas erros gramaticais:
derivações impróprias,
o imperfeito-subjuntivo,
polissemias e crases equivocadas,
interrogações involuntárias.

Nosso encontro, alegria,
beleza de gestos,
foi pleno de hiatos,
sinais, cognatos.
Só não gostei... - entristeço! -
do ponto final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário